Texto da autoria da professora Isabel Bettencourt, educadora e docente do Ensino Básico desde 1985.
Em março de 2020, entrar na escola do futuro a pés juntos foi um desafio que fez disparar os sentidos de qualquer professor.
No espaço de uma semana foi necessário replanificar, reorganizar, inventar
metodologias, testar e avaliar de acordo com critérios de avaliação adaptados à nova realidade.
Era urgente o professor dominar as novas ferramentas de trabalho para manter a autoridade dentro da “sala de aula”, corrigir situações de alunos que “mutavam” os colegas ou os professores, que os expulsavam da “sala de aula”, ou simplesmente desapareciam sem que o professor se desse conta.
Para os professores menos familiarizados com as tecnologias, o impacto da mudança foi ainda mais difícil, e para os que trabalham no ensino privado houve a responsabilidade acrescida de manter o nível a que as famílias estavam habituadas.
As equipas uniram-se e partilharam conhecimentos, mesmo quando isso implicou passar mais de dez horas diárias em frente ao ecrã do computador a pesquisar, a ver tutoriais, a enviar planificações, a enviar e corrigir as tarefas dos alunos, a manter os apoios individuais aos alunos com dificuldades, a responder a pedidos de ajuda para a realização das tarefas, fora do horário letivo e… até a dar apoio emocional a alunos e pais.
As famílias exasperaram entre a realização do seu teletrabalho e garantir que os filhos sabiam usar as ferramentas que lhes permitiam acompanhar as aulas online, que cumpriam as tarefas pedidas e que estas chegavam aos professores.
É inacreditável o dia a dia de uns pais com sete filhos numa casa onde só há dois computadores. À vez, eram escolhidos os filhos que ficavam sem assistir às aulas para que a mãe, professora, pudesse dar as suas aulas e o pai fizesse o seu teletrabalho.
Para já, ficámos todos bem.
E se voltarmos ao confinamento?
Ficaremos todos bem na escola se as dinâmicas de ensino/aprendizagem permitirem resultados idênticos, ou melhores, aos conseguidos nas aulas presenciais, sem que o professor necessite de sobrecarregar as famílias com tarefas que são suas.
É determinante que as crianças cresçam em harmonia e sejam felizes; que as famílias não vivam à beira de um ataque de nervos, ao ponto de, involuntariamente, exporem a sua privacidade em situações de total descontrolo.
É confrangedor e injusto.
Contudo, os objetivos foram cumpridos. Foi muito positiva a partilha, a união entre grupos de trabalho e o enorme crescimento em autonomia e maturidade de alunos e professores.