O que pensa o fundador da Escola Ponte sobre a educação atual

Em 1976, o educador José Pacheco fundou a Escola Ponte, em Portugal.

Parte da rede pública portuguesa, a instituição rompe com os padrões escolares mais tradicionais. Não existem séries ou ciclos. Os professores não são responsáveis por uma disciplina. A abordagem pedagógica é focada no desenvolvimento de projetos a partir de temas de interesse dos alunos.

Quase cinquenta anos após abrir as portas, a Escola Ponte se tornou referência mundial quando o assunto é inovação educacional. Sua proposta, inclusive, foi levada para outros países. No Brasil, por exemplo, chegou até a Escola Âncora, em Cotia, no interior paulista, e a Escola Aberta de São Paulo – ambas iniciativas acompanhadas de perto por Pacheco.  

Recentemente, em comemoração ao Dia Internacional da Educação, Pacheco concedeu uma entrevista ao portal Diário de Notícias. Na entrevista, ele criticou a continuidade de um modelo escolar com raízes no século 19. O resultado, na sua visão, é que a escola atual “condena à ignorância” e está fora da lei, pois não garante a aprendizagem dos alunos e nem o acesso de todos.

“Este modelo correspondeu às necessidades sociais da primeira revolução industrial. Mas nós vamos já para a quarta ou quinta. Entramos no século 21 e a maioria das escolas, quase todas, funciona com um modelo herdado do século 19, da produção em série”, afirmou. “Os alunos não aprendem; decoram, colocam num papel e esquecem”, completou Pacheco. 

Por uma nova construção social da aprendizagem

Segundo Pacheco, historicamente, existem três grandes paradigmas educacionais. São eles: o da instrução, que data dos séculos 17 a 19; o da aprendizagem, que nasce no início século 20; e o da comunicação, que tem no pedagogo e filósofo brasileiro Paulo Freire seu maior expoente. 

A implementação de uma nova construção social da aprendizagem exige um olhar para esses paradigmas. Entretanto, conforme o português, o foco deve estar na relação entre o aluno e o professor, como propõe o terceiro paradigma. 

“O que está hoje em causa é o que o centro não é aquele que o paradigma da aprendizagem propõe, o aluno. O centro é a relação, a ligação entre o jovem e o mediador/professor, e entre eles e o objeto de aprendizagem” afirmou. Ou seja, tudo depende da criação de um vínculo entre professor e aluno, o que envolve não apenas o aspecto cognitivo, mas também o afetivo, estético, ético e espiritual. 

O problema é que a própria formação docente reproduz o modelo do século 19. Com isso, o que acontece é uma espécie de isomorfismo da educação. Isso significa, como explicou o fundador da Escola Ponte, que o modo como o professor aprende vai ser o modo como o professor ensina. 

Trata-se, portanto, de um ciclo nocivo, pois tende a repetir uma abordagem pedagógica ultrapassada. Para interrompê-lo a favor de um novo modelo educacional, a formação docente deve partir das competências e valorizar o que o professor sabe fazer, dar aulas. 

“Ele tem de partir daí e perceber que não há dificuldades de aprendizagem, há dificuldade de ‘ensinagem’. Apesar de ele ser muito bom a dar aula, há alunos que não aprendem. Então, ele tem de procurar uma solução para esses alunos. Isso é pesquisa, é produção de conhecimento, é competência profissional”, ressaltou. 

Na prática, a ideia é que o professor construa projetos com os alunos a partir das necessidades, desejos e sonhos de cada um. Aqui, entra o conceito de projeto de vida: o professor não prepara uma aula, diz Pacheco, ele ajuda o aluno a planificar a sua vida, levando em conta o contexto no qual 80% das profissões que existem hoje correm o risco de acabar.

“Nós temos é de ter uma mente muito aberta, utópica, para lhes dar autonomia intelectual, moral, prepará-los para qualquer atividade que venha a existir no futuro”, afirmou Pacheco. 

A entrevista completa, publicada no Diário de Notícias, está disponível no link abaixo:

José Pacheco: “A Escola atual está fora da lei e à margem das ciências da educação.”

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