por Felipe Rodrigues*
Em um mundo dinâmico, veloz e digitalizado, o modelo de escola tradicional, com carga horária fixa e igual para todos, e aulas 100% expositivas, vem se mostrando cada vez mais defasado.
Essa realidade motivou a Lei nº 13.415/2017, que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, estabelecendo mudanças na estrutura do Ensino Médio. A norma define uma organização mais flexível de conteúdos, que contemple uma Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
A proposta chega após anos de planejamento e debates entre diversos setores da sociedade. Aos seus princípios educacionais, somam-se fundamentos legais e normativos, amparados na legislação e em outros documentos relevantes para a educação brasileira.
A carga horária total do Ensino Médio ainda deverá ser ampliada, passando das atuais 2.400 horas para 3.000 horas. Essa carga deverá ser dividida entre as disciplinas obrigatórias (Língua Portuguesa, Matemática e Inglês) – que devem ocupar 60% do tempo – e itinerários formativos nas seguintes categorias: Linguagens (Português, Inglês, Artes e Educação Física), Ciências da Natureza (Biologia, Física e Química) e Ciências Humanas e Sociais (História, Geografia, Sociologia e Filosofia) e Formação Técnica e Profissional, com 40% do tempo.
Os Itinerários Formativos tratam da parte flexível do currículo do Novo Ensino Médio, permitindo que o próprio estudante escolha qual trilha seguir.
Eles possibilitam a contextualização do que é ensinado em relação à realidade da instituição e permitem que os estudantes se aprofundem nas áreas que se interessam mais.
As mudanças na base curricular visam fornecer mais autonomia para os alunos, colocando-os no centro de suas jornadas de aprendizado, o que aumenta seu engajamento e motivação. Ou seja, a reestruturação busca garantir, além da parte comum a todos os estudantes, múltiplas possibilidades de criação de ensino, conforme o interesse de cada aluno.
Desafios e metodologias ativas
As ideias propostas vão ao encontro de práticas educacionais modernas, nas quais o aluno tem liberdade de escolha entre as áreas de conhecimento que gostaria de se aprofundar ao longo dos anos. No entanto, é preciso ressaltar as peculiaridades do Brasil, um país extremamente desigual, onde o ensino público carece de recursos para colocar inovações em prática.
Os desafios e as dificuldades são inúmeros e uma saída para as instituições (particulares e públicas) colocarem as diretrizes do Novo Ensino Médio em Prática está nas metodologias ativas, estratégias de ensino centradas na participação efetiva dos estudantes na construção do processo de aprendizagem. O método prega que tudo deve ser feito de forma flexível e interligada, colocando o aluno como protagonista e transformador do processo de ensino. Já o educador assume o papel de um orientador, abrindo espaço para a interação e participação dos estudantes na construção do conhecimento.
A aprendizagem ativa eleva a flexibilidade cognitiva, que é a capacidade de alternar e realizar diferentes tarefas, e auxilia na adaptação a situações e problemas inesperados, superando inclusive modelos mentais rígidos e automáticos. São meios e instrumentos ideais para viabilizar uma maior eficiência e engajamento nos estudantes do Ensino Médio.
O ensino híbrido – que combina aprendizado online com o offline, a partir da mescla de momentos em que o aluno estuda sozinho, de maneira virtual, com outros em que a aprendizagem ocorre de forma presencial –, e a gamificação, que consiste em trazer a experiência dos jogos para o ensino, são exemplos consistentes e eficazes de metodologias ativas.
O papel dos educadores
Nesse novo cenário, professores e gestores devem desenvolver suas competências de trabalho com metodologias que busquem um aluno ativo e protagonista de seu aprendizado, tornando-se cada vez mais próximos de seus estudantes. Também será necessário que esses profissionais criem competências avaliativas que considerem o desenvolvimento das habilidades e que estabeleçam o hábito de fornecer feedbacks assertivos aos alunos.
As mudanças propostas pela nova base no Ensino Médio irão impactar toda a comunidade escolar. Por isso, o papel do gestor e da equipe pedagógica será imprescindível, tanto ao realizar ações como a implementação das metodologias ativas, quanto dos currículos e da construção e oferta dos itinerários.
Há muito trabalho a ser feito, mas existem alternativas e caminhos possíveis. É necessária uma comunicação clara e direta entre todos os envolvidos na operação escolar, além de uma procura constante por inovações e capacitações. A busca por parcerias com organizações do segmento educacional também irá colaborar para que seja possível colocar todas essas propostas em prática. Ganham as escolas, os alunos, os gestores e, consequentemente, o país inteiro, com novas gerações muito mais preparadas para os desafios pessoais e profissionais pela frente.
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*Felipe Rodrigues é gerente de Operações da DreamShaper no Brasil.